quinta-feira, 5 de maio de 2011

Soneto da separação


De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Um comentário:

  1. Eternamente Vinícius de Moraes! Gosto muito dos sonetos dele, principalmente este que deixo abaixo rs:

    "Soneto do Maior Amor"

    Maior amor nem mais estranho existe
    Que o meu, que não sossega a coisa amada
    E quando a sente alegre, fica triste
    E se a vê descontente, dá risada.

    E que só fica em paz se lhe resiste
    O amado coração, e que se agrada
    Mais da eterna aventura em que persiste
    Que de uma vida mal aventurada.

    Louco amor meu, que quando toca, fere
    E quando fere vibra, mas prefere
    Ferir a fenecer - e vive a esmo

    Fiel à sua lei de cada instante
    Desassombrado, doido, delirante
    Numa paixão de tudo e de si mesmo.

    Vinícius de Moraes

    PS: Seu blog tá muito legal, eu visito sempre;)
    Beijos!

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